terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O gênio esquecido


Há 30 anos* o mundo ficou mais triste. Os gramados ficaram mais cinzas, as arquibancadas mais caladas e o futebol perdeu um pouco do jeito moleque e natural de ser com o adeus de Mané Garrincha.

Claro que estão pensando: como essa ‘pirralha’ de 33 anos pode lamentar a morte de alguém que nem viu atuar? É, muitos podem ter razão. No entanto, cresci apaixonada por dois gênios da bola que não vi atuar: Luizinho e o Mané.

Mané deixando mais um "João" para trás

Os dois jogaram no meu time de coração. Luizinho foi ídolo e conquistou títulos, enquanto Mané passou pelo Parque São Jorge no ocaso de sua carreira, deixando apenas a história do clube um pouco mais estrelada.

Como a maioria da minha geração, o que sei de Garrincha está nos livros e naqueles vídeos do Youtube que, vire e mexe, chamam minha atenção pela genialidade de alguém que jogava futebol por amor. E sim, Mané era assim.

Sempre tive um respeito enorme por ele, pois nunca escondeu que era um sujeito simples que encarava uma Copa do mundo como quem joga uma pelada em sua cidade natal. Mané não jogava por contrato, bicho ou fama, atuava porque gostava. E isso sim é a essência do futebol que aprendi a amar.

Dia desses li que o maracanã vai ganhar uma estátua em bronze do Pelé. Legal, o Rei merece ser saudado, mas fiquei pensando: quantos outros, entre eles Garrincha, não mereceriam uma homenagem como esta no nosso templo do futebol. Não sei por que só se lembram do Pelé?!

Tá certo. Pelé não morreu em decorrência do alcoolismo e esquecido pelos fãs. Está vivíssimo e sempre pinta ora aqui, ora acolá, em uma propaganda. Mas o Rei não foi tão exemplo assim: abandonou uma filha com câncer, tem um filho que foi preso por tráfico de drogas e, todo mundo sabe, é infiel às esposas até o último fio de cabelo. No entanto, sua imagem continua intocada e a Mané cabe apenas o rótulo da história que não se deve repetir.

Pois bem, na minha lista de maiores do mundo Mané figura em primeiro lugar – e há amigos que sempre contestaram isso – porque, na minha opinião ele foi o que podia ser a seu tempo, sem amarras, sendo verdadeiro. Digam: qual Copa do mundo Pelé ganhou sozinho? Nenhuma! Agora perguntem a qualquer um no mundo: 62 foi a Copa do Mané.

Eu poderia elencar mil razões para que Mané fosse reconhecido da maneira correta, mas todas elas seriam jogadas ao vento, pois infelizmente vivemos no país sem memória.
O fato é que neste espaço o gênio das pernas tortas sempre será lembrado como o poeta da bola. Afinal, como disse Elza Soares, em recente entrevista ao O Globo, ‘Vamos celebrar o Mané Garrincha’ a alegria do povo...desmemoriado.


Vale a pena rever...




* A morte de Mané completa 20 anos no próximo domingo (20/1/2013)


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