sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A nova trapaça


Ontem (17/1), o ex-ciclista Lance Armstrong iniciou sua longa e controversa luta para voltar a atuar profissionalmente como atleta. Em entrevista à principal comunicadora dos EUA, Oprah Winfrey, ele admitiu o uso de substâncias proibidas para se tornar campeão.

Depois do velocista canadense Ben Johnson*, Armstrong é o maior escândalo de doping no esporte de alto rendimento e mostra o quanto a competitividade e o desejo por títulos podem tirar atletas do caminho.

Calculadamente, Armstrong confessou doping na TV

Como falamos em post anterior, o grande erro da mídia – e até das instituições máximas do esporte – foi nunca ter apostado no simples fato de que Lance Armstrong é um humano sujeito a erros e acertos. O endeusamento de sua imagem contribuiu, e muito, para que insistisse no uso de métodos antiéticos para vencer.

A admissão da culpa do atleta não muda em nada o estrago causado ao esporte. Entretanto, ao se mostrar humano diante das câmeras pode ajudar Lance a voltar a ser ídolo. Afinal, desceu do pedestal e se tornou tão falível quanto seus fãs (e ex-fãs).

Uma frase do ex-ciclista me chamou a atenção:  "Eu não via isso como uma trapaça". Ora, não dá para aceitar que alguém que atuou no nível técnico e de redimento de Armstrong não tivesse a inocência de achar que o doping seria ético.

Acho que ele tem o direito de se defender publicamente e, quem sabe, reconquistar o direito de competir. Entretanto, não pode voltar a enganar o público. Sim, ele sabia que era errado e mesmo assim o fez. E não pode vender simplesmente a imagem do arrependido que não vai cometer os mesmos erros. Alguém acreditaria?

A Nike, uma de suas principais patrocinadora, logo após a entrevista se pronunciou reafirmando ter cancelado o contrato com o ciclista assim que foram reveladas as fraudes dele no esporte.

Isso mostra que, além de se prejudicar e manchar a imagem do esporte, Armstrong também violou a confiança de seus patrocinadores. E isso tem um preço (e bem caro).

O meu temor, enquanto jornalista, é que Lance esteja trapaceando novamente com seu discurso de arrependido. Como disse no Twitter meu colega e ex-professor Alexandre Praetzel, da Rádio Bandeirantes, “o próximo LANCE do Armstrong é escrever um livro sobre toda farsa que ele montou.Vai vender feito água”.

Com a repercussão que a entrevista à Oprah teve, não duvido. Basta saber se você, leitor, vai cair na nova trapaça.


* Para os mais novos, vale lembrar que o velocista canadense Ben Johnson brilhou na década de 1980 fazendo sombra ao norte-americano Carl Lewis. Bateu quatro vezes o recorde mundial dos 100 m, mas caiu em desgraça nos Jogos de Seul, em 1988, quando o teste de doping apontou o uso de anabolizantes. Além de perder o ouro, ficou suspenso por alguns anos. O atleta retornou às pistas em 1991, mas dois anos depois foi pego novamente no exame de doping.

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