sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Nem anjos, nem demônios. Só humanos


Desde ontem, quando logo pela manhã vi a notícia de que o campeão paraolímpico Oscar Pistorius poderia estar envolvido no assassinato de sua namorada, fiquei pensando sobre a imensa necessidade que a imprensa e a sociedade têm em criar mitos.

Há semanas, o mundo todo ficou embasbacado com as revelações do ciclista Lance Armstrong, que confirmou as suspeitas que sempre rondaram sua carreira: sim, ele havia vencido todas as Voltas da França e conquistado uma medalha olímpica graças ao uso de doping. Aí o mundo caiu, o ídolo ruiu e “perdemos” uma referência.

Atleta foi indiciado por assassinato da namorada

Agora acontece o mesmo com Pistorius. Exemplo de determinação e superação, o sul-africano foi o primeiro biamputado a participar de uma Olimpíada, disputando uma corrida com atletas com pernas. Tem mais emoção e audácia que isso? Claro que não. 

Nós, da mídia adoramos figuras como essas. Afinal, são manchetes de revista e jornal que vendem muito. Agora imagina o reflexo disso no mundo do marketing esportivo onde qualidades como as já citadas do atleta casam perfeitamente com campanhas de impacto, como as da Nike, por exemplo?

Pois é, fica cada vez mais claro que a mídia – e a publicidade – precisam tomar um pouco mais de cuidado com o endeusamento de atletas que não são nem anjos, nem demônios, mas simples seres humanos. E, como humanos, falíveis e propensos a cometer erros como trair a mulher, como foi o caso do golfista Tiger Woods; mentir sobre doping, como o ciclista Lance Armstrong ou premeditar a morte da namorada, como Oscar Pistorius.

A verdade é que vão existir homens e mulheres sensacionais no esporte, como foram Ayrton Senna, Emil Zatopek, Ademar Ferreira da Silva e tantos outros, que foram exemplos dentro e fora dos meios esportivos. Mas também teremos homens como Mané Garrincha e Pelé, só para citar dois ídolos, que foram grandes nos gramados, mas tiveram problemas fora dele como o “anjo das pernas tortas”, que era alcóolatra e o “Rei do Futebol”, que deixou a filha bastada morrer de câncer sem ir visita-la por estar muito ocupado. 

Pelé não foi exemplo fora de campo
A vida é assim. E não podemos nos apegar somente aos feitos esportivos e deixar que as qualidades dos atletas sejam nossa única inspiração. Temos que ficar atentos ao fato de que eles não super-homens.

É de entristecer, por exemplo, ler nos jornais de hoje que o judoca Aurélio Miguel, detentor de duas medalhas olímpicas, ao se tornar vereador tenha multiplicado sua fortuna de R$ 1,4 milhão para R$25 milhões durante seu mandato! 

Para nós, que torcemos e vibramos com eles no tatame, nos sentimos enganados não pelo atleta, mas pelo homem, que como a mídia e a publicidade, se aproveitou de sua imagem no esporte para nos enganar.

E isso vai acontecer sempre que nos atentarmos sempre só para os feitos esportivos! Ou vocês pensam que Messi é um santinho e Cristiano Ronaldo um mau caráter? Temos que ver sempre os dois lados da moeda, para que casos como esse não voltem a nos chocar tanto. Afinal, como eles, todos somos falíveis.


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