domingo, 6 de março de 2011

# HISTÓRIAS DO FUTEBOL: Quem derrubou João Saldanha?


Os amantes do futebol sabem quem é João Saldanha, mas pode ser que a nova geração nunca tenha ouvido falar neste homem que, simplesmente, foi o responsável por montar a seleção brasileira que trouxe a Jules Rimet definitivamente para o Brasil.

Para começar, basta saber que Saldanha foi o comandante do timaço do Botafogo de Garrincha, Nilton Santos e Didi, campeão carioca de 1957. Imaginem: quem comanda um time assim, sabe tudo e mais um pouco de futebol.

Ao deixar o cargo de técnico da Estrela Solitária, Saldanha investiu na carreira de comentarista esportivo, tornando-se amado pela massa com comentários inteligentes.

Mas, desde 1962 a seleção canarinho não era a mesma. Foi mal na Copa de 1966 e tinha que voltar aos bons tempos para tentar o caneco em 1970. E, para a surpresa da torcida, em 1969, João Havelange então presidente da CBD, convidou Saldanha para o cargo de técnico da seleção apesar das duras críticas que o mesmo fazia à preparação para a Copa e, principalmente, por o Brasil inteiro saber que o mesmo era comunista.

E aí abro um parênteses: como poderia um comunista assumido comandar a maior paixão nacional sem interferências do governo militar?

Ora, a lua de mel entre Saldanha, a torcida, a CBD e o governo durou pouco tempo. Primeiro porque o técnico foi esmagadoramente criticado pela imprensa esportiva, mesmo com a brilhante classificação da seleção para a Copa. Segundo, porque Saldanha aproveitou as viagens ao exterior com a seleção para denunciar os crimes da ditadura. E, por fim, a tentativa de barrar Pelé – que não vinha atuando bem – e a insistência do general Médici em ‘convocar’ Dario minaram a permanência de Saldanha à frente da seleção.

O fato é que Saldanha foi traído por todos os lados: por Pelé, único atleta a não defender a permanência do técnico, pois sentia-se perseguido; por Havelange, que demitiu toda a comissão técnica sem consultar Saldanha e por Zagallo que, de certa forma, articulava nos bastidores sua ida para o comando da seleção, aceitando as ordens de Médici e prontificando-se a convocar Dario para a Copa.

Visivelmente, Saldanha passou por um processo de "fritura" e de provocação com o objetivo de levá-lo a meter os pés pelas mãos, apesar do bom retrospecto dentro de campo. E, num país mergulhado nas trevas da ditadura, era certa a saída do técnico-militante destacado do Partido Comunista Brasileiro. A ditadura não podia admitir quem um comunista do quilate de Saldanha voltasse com a Jules Rimet nas mãos, e nos braços do povo. Temiam que a vitória pudesse ser atribuída à oposição, fortalecendo-a aos olhos do povo.

Para nossa sorte, Zagallo mexeu pouco no elenco que foi à Copa e ganhou o tri. Mas o mérito dessa conquista, incontestavelmente, foi de João Saldanha e ao grupo de ‘feras’ que ele montou!



* Para os leitores que curtem as histórias do futebol e querem conhecer melhor a vida do grande João Saldanha, vai aí a dica de um livro maravilhoso: João Saldanha – uma vida em jogo, de Adré Iki Silveira, da Companhia Editora Nacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário