Ontem (17/1), o ex-ciclista Lance Armstrong iniciou sua
longa e controversa luta para voltar a atuar profissionalmente como atleta. Em entrevista
à principal comunicadora dos EUA, Oprah Winfrey, ele admitiu o uso de
substâncias proibidas para se tornar campeão.
Depois do velocista canadense Ben Johnson*, Armstrong é o
maior escândalo de doping no esporte de alto rendimento e mostra o quanto a
competitividade e o desejo por títulos podem tirar atletas do caminho.
Calculadamente, Armstrong confessou doping na TV |
Como falamos em post anterior, o grande erro da mídia – e até
das instituições máximas do esporte – foi nunca ter apostado no simples fato de
que Lance Armstrong é um humano sujeito a erros e acertos. O endeusamento de
sua imagem contribuiu, e muito, para que insistisse no uso de métodos
antiéticos para vencer.
A admissão da culpa do atleta não muda em nada o estrago
causado ao esporte. Entretanto, ao se mostrar humano diante das câmeras pode
ajudar Lance a voltar a ser ídolo. Afinal, desceu do pedestal e se tornou tão
falível quanto seus fãs (e ex-fãs).
Uma frase do ex-ciclista me chamou a atenção: "Eu não via isso como
uma trapaça". Ora, não dá para aceitar que alguém que atuou no
nível técnico e de redimento de Armstrong não tivesse a inocência de achar que
o doping seria ético.
Acho que ele tem o direito de se defender
publicamente e, quem sabe, reconquistar o direito de competir. Entretanto, não
pode voltar a enganar o público. Sim, ele sabia que era errado e mesmo assim o
fez. E não pode vender simplesmente a imagem do arrependido que não vai cometer
os mesmos erros. Alguém acreditaria?
A Nike, uma de suas principais
patrocinadora, logo após a entrevista se pronunciou reafirmando ter cancelado o
contrato com o ciclista assim que foram reveladas as fraudes dele no esporte.
Isso mostra que, além de se prejudicar e
manchar a imagem do esporte, Armstrong também violou a confiança de seus
patrocinadores. E isso tem um preço (e bem caro).
O meu temor, enquanto jornalista, é que
Lance esteja trapaceando novamente com seu discurso de arrependido. Como disse no
Twitter meu colega e ex-professor Alexandre Praetzel, da Rádio Bandeirantes, “o próximo
LANCE do Armstrong é escrever um livro sobre toda farsa que ele montou.Vai
vender feito água”.
Com a repercussão que a entrevista à Oprah teve, não duvido. Basta saber
se você, leitor, vai cair na nova trapaça.
* Para os mais novos, vale lembrar que o velocista canadense Ben Johnson brilhou na década de 1980 fazendo sombra ao norte-americano Carl Lewis. Bateu quatro vezes o recorde
mundial dos 100 m, mas caiu em desgraça nos Jogos de Seul, em 1988, quando o
teste de doping apontou o uso de anabolizantes. Além de perder o ouro, ficou
suspenso por alguns anos. O atleta retornou às pistas em 1991, mas dois anos
depois foi pego novamente no exame de doping.
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