Os dois últimos dias não foram nada fáceis. Qualquer pessoa
em sã consciência ficou abalada com a morte do jovem Kevin Beltrán Espada.
Como todo adolescente de 14 anos, ele era apaixonado por
futebol e pelo seu clube. Apesar de morar em Cochabamba, foi com a família até
Oruro, cidade vizinha, para assistir a estreia do seu time na Libertadores.
Saiu de lá num caixão.
Futebol está de luta. Não à violência! |
Aqui no Brasil, só ficamos sabendo de sua morte no fim da
partida. A partir dali, começou um drama enorme de consciência para os
torcedores do Corinthians: se indignar com a morte de um companheiro de
arquibancada ou cobrar punição ao seu time de coração que, indiretamente, tem
responsabilidade por tudo o que acontece dentro de campo?
Vou dizer a vocês que não é fácil. A primeira coisa que veio
na minha cabeça foi: ‘e se fosse comigo?’ ou ‘e se fosse com algum amigo meu?’.
Afinal, estamos sempre no Pacaembu incentivando a equipe e, até pela enorme
quantidade de torcedores, sempre estamos próximos das torcidas organizadas.
Na hora chorei pela morte besta de um menino que estava ali
para se divertir. Não há como não se indignar que uma partida de futebol não
seja interrompida após uma morte! Nunca e por motivo algum isso deve acontecer.
Se ele morreu no início do jogo, por que não interromperam a partida? Até agora
não entendi.
Depois fiquei imaginando se aquilo havia acontecido por
acaso ou se tinha sido algo planejado. Na hora não tinha muitas imagens e,
posteriormente, as que pareciam que havia sido uma ‘fatalidade’. Agora, imagens
recentes divulgadas por uma rádio boliviana me fazem acreditar que a ação foi
proposital, o que é inadmissível! E ainda contesto: como um sinalizador, que é
proibido pelo regulamento da competição, estava em posso de torcedores na
arquibancada?! Cadê a revista? A segurança?
Há uma mistura enorme de sentimentos. Revolta pela vida
perdida, necessidade de justiça e amor ao meu time. Sim, podem me questionar,
mas é isso o que eu sinto.
Kevin nunca mais verá um jogo. Está certo isso? |
Até cogitei a ideia de defender que o clube saísse por conta
própria da competição. Seria um marco se isso acontecesse, pois mostraria que,
tal qual o Barcelona, somos “mais que um clube”, mas depois refleti e não achei
justo que os jogadores e a entidade fossem prejudicadas por algo que não está
diretamente sob seu controle.
Quando vi a notícia de que o clube foi punido com jogos com
portões fechados achei, em partes, que a Justiça foi feita. Primeiro porque a
Conmebol sempre foi omissa e a atitude mostra que não devemos aceitar que
coisas como esta voltem a acontecer. Por outro lado – e enquanto torcedora –
fiquei frustrada. Afinal, estou com os ingressos comprados para a competição
desde dezembro e, por conta da atitude de alguns, fui diretamente punida.
Também não vou criticar o clube por recorrer da decisão da
Conmebol. É um direito pertinente a ele, que tem motivos para o fazer, pois o
prejuízo com a perda da renda é tamanha, especialmente após os investimentos
feitos para a competição. No entanto, do fundo do coração, e apesar da minha
frustração, queria que a decisão fosse mantida.
Kevin nunca mais poderá ver um jogo. Sua família terá de
conviver com a dor de sua perda para sempre. Perder três ou quatro jogos não
vai mudar a minha vida. Eu – por sorte – estou aqui e nunca me envolvi num
acidente num estádio.
O Corinthians, por ser o primeiro clube punido com tal
severidade, servirá de exemplo. E, certamente, precisará – e deve – mudar sua
relação próxima com as torcidas organizadas de uma vez por todas. Pois, se colocar
na ponta do lápis, verá que quem dá renda ou ajudar nas finanças do clube são
os torcedores comuns que adotaram o Fiel Torcedor, compram produtos oficiais
nas lojas Todo Poderoso, gastaram os tubos para ir ao Japão e que estão ali,
sem causar dano nenhum ao clube. Diferente das organizadas que recebem
ingressos gratuitos e, muitas vezes, têm viagens patrocinadas pelo clube.
Os prejuízos desta tragédia toda atingiram todos os lados. A
família de Kevin que jamais se recuperará, o Corinthians que perde dinheiro e a
chance real de brigar pelo título e a torcida-cidadã que será punida por causa
de pessoas mal intencionadas.
Mas, também perde o futebol, que deixa de ter graça por um
bom tempo!
P.S. Defendo que, sempre que possível, a torcida corintiana faça homenagens ao Kevin. É o mínimo que podemos fazer.
P.S.2. O Corinthians deveria pagar uma indenização vitalícia para a família do jovem boliviano. Isso não paga a dor, mas é alguma coisa.
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