terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Quebrando as pernas...da razão

A repercussão da invasão ao CT do Corinthians, no último sábado (1/2), parece não ter fim. E não por sensacionalismo, mas porque cada vez mais chegam à tona detalhes sórdidos de um pesadelo!

Em pleno século XXI, vivemos como na era medieval nos campos de futebol Brasil afora. Torcedor é tratado como gado, federações não se preocupam com calendário e as organizadas voltam a apresentar o pior lado da violência.

Emerson Sheik promete não abandonar o time, mesmo sob pressão da torcida


Depois de ler o comunicado da Gaviões da Fiel fiquei absorta. Pode ser que a invasão não tenha sido orquestrada pela diretoria da agremiação, agora dizer que a "imprensa marrom" tem caluniado a instituição insistindo em ligar o caso Oruro aos novos fatos. Ora, bolas! Se os caras presos na Bolívia estão constantemente ligados aos atos de violência — vide briga no jogo contra o Vasco e agora invasão ao CT —, a culpa é da imprensa em noticiá-los?

Ontem, recebi a informação de que a família de Emerson Sheik pediu para ele deixar o Corinthians. Também, pudera, os valentões que invadiram o centro de treinamento "só" queriam quebrar as pernas dele e de Alexandre Pato. Coisa simples e corriqueira, não?!

Claro que os familiares dos jogadores estão com medo. E têm razão para isso. Porque a irracionalidade está beirando a graus extremos. Dizem, até, que um dos torcedores queria matar o Pato. 

Criticar a má fase do time e dos jogadores é algo comum e direito do torcedor. Agora matá-los em razão disso? Não lembro de ninguém tentar fazer o mesmo quando o time caiu para a segunda divisão. E olha que a situação era muito, muito pior!

O problema é que o corinthiano, nos últimos anos, se acostumou com a vitória. Ganhou tudo de 2009 até 2013. É para acostumar mal mesmo. No entanto, parece que esses torcedores perderam sua personalidade e esqueceram que ser corinthiano é ser sofredor (graças a Deus!!!). Nada na nossa vida futebolística é fácil. Teremos derrotas arrasadoras e vitórias triunfantes. É assim a nossa história! 

O que não podemos — e não devemos esquecer — é que violência não leva a nada. Muito pelo contrário, só nos prejudicou, basta lembrar o jogo na Libertadores com portões fechados e a perda de vários mandos de jogo.

Sou à favor da greve dos jogadores porque é preciso Bom Senso não só dos clubes, mas de todos os envolvidos... E não me venham dizer que Paulo André está jogando mal porque lidera o movimento. Tem alguém jogando bem? Não misturem as bolas, por favor!

E por fim, sobre o Sheik, o que apurei é o seguinte: "Não vou embora do Corinthians. Eu amo o clube e vou encerrar minha carreira aqui". Agora, ele tem andando com seguranças...uma pena!


P.S. Eu sei que torcedor de futebol tem memória curta e que a má fase de Emerson só pioram as coisas, mas querer quebrar as pernas do cara que "acabou" do sentido bom da palavra com o Boca Juniors em pleno Pacaembu é demais da conta....

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Essa vergonha tem que acabar

Imagine esta cena: você está reunido com sua família em sua casa e, de repente, 100 marginais invadem seu lar. Agressivos, eles quebram vidros, roubam objetos, ameaçam a vida de seu filho predileto tentando enforcá-lo e ainda pegam sua faxineira como refém.

Aí, sem mais, nem menos, depois de todo o terror e estrago, mesmo com a chegada a polícia eles vão embora impunementes, como se o que acabara de acontecer com sua família fosse algo comum.

Mas não é. A cena não aconteceu num lar brasileiro, mas no centro de treinamento de um dos principais clubes do País e os agressores são afiliados de torcidas organizadas do time.

Guerrero foi esganado por um torcedor que envadiu o CT


Tudo isso aconteceu porque eles acham que, após uma derrota, o time precisa jogar não por amor, mas por terror. Funcionou? Não, só piorou a situação.

O Corinthians entrou em campo derrotado no último domingo. Não porque vive uma fase ruim, mas porque os jogadores estão apavorados. E com razão.

No Twitter, uma garota que se diz corintiana divulgou a placa do carro do zagueiro Paulo André para o microblog da Gaviões da Fiel, como que incentivando a perseguição ao jogador.  A placa dos veículos de outros jogadores parecem que caíram nas redes sociais.

Depois de toda essa confusão o Corinthians não deveria ter entrado em campo. Não em desrespeito aos outros milhares de torcedores que sabem cobrar sem violência, mas justamente porque como profissionais, jamais deveriam ter passado por essa experiência. 


Faltou tato à Federação Paulista de Futebol e, especialmente, à Rede Globo, detentora dos direitos de transmissão da partida, que "forçaram" o time a jogar. O resultado, como era de se esperar, foi uma equipe nervosa e com medo. Porque sabem que, se bobear, aqueles mesmos bandidos de sábado podem bater às suas portas, mas desta vez não do clube, mas de suas casas.

O que fazer diante de tudo isso? Ora, não entendi até agora porque a polícia não prendeu os invasores. E olha que parte daqueles que foram presos em Oruro, na Bolívia, quando da morte do garoto Kevin Espalda, e depois protagonistas da selvageria em partida contra o Vasco da Gama estavam por lá. Não seria reincidentes? Não deveriam estar atrás das grades?

O País que organizar a próxima Copa daqui alguns meses a cada semana que passa mostra que não tem estrutura física, muito menos organizacional para lidar com hooliganismo à brasileira.

Espero, de coração, que o Ministério Público ou outro órgão competente faça algo de efetivo para acabar com as torcidas organizadas. Porque, daqui a pouco, o estádio será apenas a praça de guerra deles e não o palco do futebol de todos!

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A crueldade do tempo

O tempo é cruel. Passa tão rápido que, quando notamos, acabou. Assim aconteceu com Djalma Santos. Depois de 84 anos de uma vida de glórias, saiu de fininho, deixando um baita buraco na nossa história.

Como o tempo é cruel... Não vi Djalma jogar. Mas, cresci ouvindo sobre sua primazia na lateral direita e invejando os clubes dos quais ele vestiu a camisa.


Djalma Santos foi uma lenda na lateral direita

O tempo é mesmo muito cruel. Estava aguardando a melhora na saúde de Djalma para propor-lhe uma entrevista para o meu próximo livro e, quem sabe, alinhavar a ideia de sua própria biografia. Não deu tempo.


Embora cruel, o tempo permite que possamos relembrar as glórias e a maestria de Djalma, que passou uma Copa inteira no banco e, em um único jogo – a final de 58, acabou sendo escolhido para a seleção do torneio.


Imagino que ele deva ter feito a festa contra o meu Corinthians lá nos anos 50. Mas tudo bem. Existem ídolos que ultrapassam as cores dos clubes porque são tão geniais que nos permitem engolir o orgulho clubístico e aplaudir sua maestria.


Hoje, em sua despedida, não importa se ele foi Portuguesa, Palmeiras ou Atlético Paranaense. O que vale mesmo é saldar um mestre com a bola nos pés, um ídolo imortal e um homem a se admirar.


Viva Djalma Santos!




segunda-feira, 1 de julho de 2013

Valeu, Paulinho!

Coração de torcedor sofre, sofre muito! Arde de amor pelo clube, chora de tristeza nas derrotas, vibra com a empolgação de uma vitória e fica irreversivelmente machucado quando se despede de um ídolo.

Durante toda sua vida, o torcedor ficará com incontáveis cicatrizes desse gênero. Nada dura para sempre e foi-se o tempo em que era possível a um atleta vestir o mesmo manto por toda – ou por quase toda – sua carreira. 


Honrou a camisa como poucos


Os tempos mudaram... No entanto, o que nunca muda é a forma como o coração do torcedor bate. Esse nunca aprende a lição. 


Derrete-se de fanatismo pelo time e morre de amores pelos craques.

Paulinho chegou ao Corinthians há apenas três anos. No começo, como sempre, foi recebido com a devida atenção, mas com aqueles olhares desconfiados de quem ainda estava machucado pelo adeus a outro jogador. 

Podem não acreditar, mas Paulinho estava destinado ao Corinthians. Para o atleta que quase deixou os campos por causa do racismo, ali no Parque São Jorge onde cores, raças e credos se misturam, encontrou o seu lugar.

Não é preciso dizer tudo o que ele fez ao Corinthians. O torcedor sabe que nos últimos anos ele conquistou espaço na nossa história. Embora sua trajetória não se resuma a números, podemos dizer que a imagem dele subindo no alambrado e abraçando um torcedor após marcar um dos gols mais importantes de nossas vidas resumem o seu significado para os corinthianos-apostólicos-romanos!

Paulinho conquistou o mundo e o mundo agora o requista para novos desafios. Não vou dizer adeus. Acho que um até logo já serve. Porque a gente sabe que, embora ele não vá vestir nosso manto por algum tempo, em nosso imaginário sempre estará presente nos campos dos nossos sonhos. 

Valeu, Paulinho! Até breve!


P.S. Só dois elementos não gostam de volantes que marcam gols: Felipão e o adversário de Paulinho!



Publicado originalmente em 27/6/2013, em minha coluna no Portal Terceiro Tempo.

As lições da Copa das Manifestações

Amigos e amigas, o inimaginável aconteceu. O Brasil não só ganhou da Espanha na final da Copa das Confederações, como deu um baile no melhor futebol do mundo. Não adianta dizer eu já sabia. Não, ninguém sabia que isso ia acontecer!

A favor da seleção, mas contra o lado podre do futebol

Talvez as mais patriotas, que assistem futebol alienados do que está ao redor dele, tenham tido a certeza/esperança de que a seleção de Felipão sairia campeã da competição. Os outros, aqueles que acompanham o esporte diariamente, com olhos mais argutos, sabiam que a missão era difícil.

Essas pessoas, Felipão e alguns jogadores, não entenderam nada do que a imprensa esportiva criticou nos últimos anos e dias. Ninguém critica a Seleção Brasileira e o futebol por puro prazer ou masoquismo. Criticamos a falta de planejamento, o estágio de decadência no qual estávamos nos afundando, a corrupção na CBF, o fato de um homem como Marin comandar nosso maior orgulho nacional e, em parte, o autoritarismo do técnico do selecionado.

E isso, amigos, é o dever da imprensa. Não porque quer se desfazer daquilo que mais amamos, mas porque é seu dever alertar sobre essas questões e fazer com que o torcedor reflita além da bola em campo.

Não é à toa que milhares foram às ruas para protestar contra os gastos exorbitantes com a futura Copa do Mundo. E não fizeram isso porque não querem a competição no Brasil ou porque torcem contra a Seleção. Nada disso! Queremos que as coisas sejam feitas do jeito certo, dando atenção a coisas tão ou mais importantes quanto o futebol. Simples assim!

Brasileiro ama futebol e, consequentemente, ama a Seleção. E isso, nem em tempos de ditadura, fez com que torcêssemos contra nosso futebol.  Quem achou que era isso, como disse Daniel Alves e Felipão em suas últimas coletivas de imprensa, é porque não entendeu nada.

Uma coisa é contestar os desmandos de Marin, Fifa e CBF. Outra é torcer a favor de que nosso futebol voltasse a ser brilhante como sempre foi.

Ganhar da Espanha, e de goleada, é bom e dá ao Brasil a força que precisava para enterrar de vez o Maracanazzo e levantar a taça em solo brasileiro. Mas isso, amigos, jamais vai apagar o dever de informar e questionar o que está errado.


Temos que aprender a torcer a favor do Brasil dentro e fora do campo. Porque se o esporte mobilizou tantas pessoas na “copa das manifestações”, imagina o que não pode fazer a favor de tudo aquilo que interfere em nossas vidas diariamente? Pense nisso!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Carta aberta à presidenta Dilma!

Cara presidenta Dilma Rousseff

Tenho um orgulho danado em ter ajudado a elegê-la com meu singelo voto. Porque você militou com diversos amigos meus, sei que comeu o pão que o diabo amassou nas mãos da ditadura em uma luta que me proporcionou viver hoje em uma "democracia".

Fiquei emocinadíssima quando a ouvi dizer que preferia "o barulho da imprensa ao silência da ditadura", pois acho que em um estado democrático todos têm o direito de se expressar, mesmo que seja contra aquilo que pensamos ou acreditamos.

Polícia preparando cerco aos manifestantes
Vejo como meu país mudou para melhor após o governo Lula e o seu. Consigo enxergar as mudanças, embora falte muita coisa a ser feita. Mas um dia chegamos lá.

Agora me admira que a senhora, que lutou e sabe o peso da repressão, não venha a pública se manifestar a favor dos protestantes, estes que estão nas ruas sendo massacrados pela Polícia Militar, essa mesmo que aprendeu nos porões da ditadura a prender, matar e torturar.

É inadmissível que o seu partido, do chamado Partido dos Trabalhadores, se omita em um momento desses. Vocês nos ensinaram a lutar por nossos direitos e como podem agora, quando lutamos por tarifas justas no transporte público se calam?

Não é possível que tal como os tucanos vão nos tachar de baderneiros, vândalos ou coisas do tipo?!

Eu não tinha participado de nenhuma das manifestações até hoje (13). Para minha surpresa, o protesto passou próximo a redação na qual trabalho e desci para apoiar o movimento. Tudo caminhava bem. As pessoas gritavam suas palavras de ordem, entregavam flores para os transeuntes, em ordem, numa boa....até que a polícia, pelas costas, começou a atirar bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha. Consegui fugir e retornar ao prédios. Mas quem não conseguiu?

Alguns colegas da imprensa estão feridos, sem contar os outros que devem estar sangrando pelas ruas de São Paulo.

Se vivemos em uma democracia, porque vocês, comandantes do país, do estado e do município não dialogam com o povo? Nós os colocamos aí nesses postos através do voto e pedimos apenas que vejam que não dá mais para pagar tão caro por um serviço de péssima qualidade.

Espero que seu passado faça com que veja que nossa luta é justa e que não podemos ser reprimidos como nos anos de chumbo. Essa é a minha esperança. Agora é com a senhora, presidenta!

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Futebol é mais que bola rolando ... Provam os rebeldes

Na noite da última quinta-feira (6/6), ocorreu a abertura do Cinefoot, festival de cinema de futebol, no Museu do Futebol, em São Paulo. Um prato cheio para quem ama filmes sobre o esporte.
 
No entanto, além de iniciar o evento com um filme sensacional "Os Rebeldes do Futebol", dos franceses Gilles Peres e Gilles Rof, houve uma emocionante homenagem ao Dr. Sócrates.



Juca Kfouri, Carlos Caszely, Wladimir e Raí 

Você não precisa ser corintiano para admirar o Magrão. Até porque, ele foi parte da alma da inesquecível Seleção de 82. Só por isso basta. Entretanto, Sócrates fez  parte do movimento mais político do futebol brasileiro, encabeçando a Democracia Corinthiana que, como diz a jornalista Marília Gabriela, foi o momento em que "o futebol ficou inteligente".

O brasileiro é um dos personagens do filme da noite. E é daqueles que recomendo assistir, porque ali você vê como outros quatro jogadores de futebol usaram sua influência para movimentar o torcedor para as questões políticas em seus países.

A película mostra como o chileno Carlos Caszely, o marfinense Didier Drogba, o argelino Rached Mekhjouf e o bósnio Pedrag Pasic mudaram a história, provando, algo que sempre digo aqui, que política e futebol se entrelaçam tão seriamente que seria necessário criar uma disciplina para entender a força do esporte!

Todos os casos são emocionantes, mas o de Caszely, que esteve presente na abertura do festival em São Paulo, é um dos mais tocantes. Para quem não sabe, ele foi o único jogador da Seleção chilena que se negou a apertar a mão do ditador Augusto Pinochet antes do embarque para a Copa de 74. Em razão disso, a ditadura prendeu e torturou sua mãe, como uma forma de dar um recado para que o jogador não se pronunciasse mais contra o regime.

É tocante ver o relato da mãe do jogador que, posteriomente, ajudou o povo chileno a votar contra a continuidade de Pinochet em um plebiscito.

Não vou contar todas as histórias aqui. Só queria despertar em vocês a vontade de assistir o filme e refletir como o futebol pode ser uma importante arma para lutas sociais. É só saber mobilizar. Mas será que temos ainda em nossos gramados rebeldes como Sócrates, Drogba, Caszely, Mekhjouf e Pasic? Talvez, o último dos moicanos tenha sido romário, que hoje em outras esferas luta por mudanças!

No fundo, meu temor é que tenhamos apenas alienados com cabelos moicano, golas levantadas e fazendo dancinhas sem o menor sentido! 




Veja a programação do Cinefoot nas capitas das Copas das Confederações aqui

P.S. Quem puder, assista na próxima segunda (10/6), o documentário "Memórias do chumbo: o futebol nos tempos do Condor". Além de ter ganhado o prêmio, é uma baita lição de história sobre futebol, produzida pelo baita jornalista Lúcio de Castro, da ESPN Brasil!